O vinho é desde sempre um conhecido dos portugueses, mas existem alguns que o conhecem como a palma das suas mãos.
Alentejo, terra de história e tradição.
É nas suas planícies que encontramos uma das maiores riquezas culturais
deixadas por terras portuguesas, o vinho da talha. Este processo é conhecido de
muitos, mas poucos são aqueles que lhe conhecem a origem.
Remota do tempo da civilização
romana, esta técnica foi sendo passada de geração em geração até chegar ao
ponto em que hoje a conhecemos. Ainda que as suas bases sejam sempre as mesmas,
podemos encontrar diferentes maneiras de a executar visto que esta pode variar
consoante o local em que se encontra.
Na adega de José Fialho, em Vila
Alva, um concelho de Cuba, já se prova o vinho da talha. Com 42 anos de idade,
sempre se lembra de produzir vinho, antes com o seu pai e com o seu avô, hoje
sozinho, mas acompanhado pelo carinho que sente por esta área que preenche a
sua vida. Para este viticultor, o vinho tem um significado especial. “Eu faço
vinho para poder consumi-lo com os amigos, estar sentado à lareira, com uma
linguiça e um copo de vinho na mão, a conversar, a relembrar histórias de outros
tempos. Para mim o vinho simboliza família e amigos, simboliza felicidade”
conta.
Durante cerca de 45 dias, decorre
todo um processo para que se consiga chegar ao produto final. Desde a apanha da
uva, passando pela moagem e por fim pela fermentação, é preciso uma atenção
redobrada. “Nós somos muito limpos e asseados com o vinho, é tudo feito com
muito cuidado”, explica. “O método mais importante é durante a fermentação ter
atenção em mexer o vinho e no final ter muito cuidado ao afina-lo.” Apesar do procedimento
ser sempre o mesmo, às vezes não chega para que o produto saia como é esperado.
“O segredo do vinho perfeito é ter boas uvas. Se não houver boas uvas, o vinho
também não vai ser bom” acrescenta. Este item é para muitos, sinónimo de lucro,
algo que não acontece no caso deste produtor. “O vinho para mim não tem
negócio, eu produzo porque quero, mas principalmente porque gosto”.
Sendo um símbolo da nossa
história, era de se esperar que trouxesse consigo algumas recordações. “Acho
que para cada pessoa, existem diferentes tradições, no meu caso, a minha
tradição depois do vinho novo estar pronto é juntar toda a gente, percorrer as
diferentes adegas da zona e provar o vinho, sempre acompanhados de um bom
petisco”. Explica ainda que para si, no final de contas “o que interessa é
estar toda a gente junta”.
Nesta região, onde encontramos
algumas das maiores produções de vinho, era de se esperar que existisse por
parte de quem procura esta iguaria um favorito. Na opinião de José, “no
Alentejo as pessoas procuram muito mais o vinho branco porque para além de
serem mais conhecido por todo o mundo, devido ao seu paladar distinto, também é
conhecido por ganhar muitos prémios” como é o caso do vinho da Adega
Cooperativa da Vidigueira, uma vila que fica no distrito de Beja. Para além
disso é muitas vezes “distinguido pela sua qualidade” acrescenta.
A produção feita por José é muito
diferente daquela que é feita noutras companhias o que torna o paladar do seu
vinho distinto de todos os outros “A grande diferença entre o vinho de fábrica
e um vinho caseiro é de que o vinho caseiro não tem muitos dos produtos
químicos que os outros têm, logo faz com que este se torne mais leve” explica o
vinicultor, que acrescenta ainda que “a produção do mesmo é feita com muito
mais cuidado” em comparação com as das grandes empresas vinícolas.
Nesta vasta indústria, que se
encontra espalhada por todo o nosso país, nem sempre é fácil compreender se a
procura do produto é igual à produção do mesmo ou vice-versa. “O que nos
surpreende a nós, produtores, é que esta é uma indústria que quanto mais se
produz, mais procura existe, portanto, no geral, ninguém se sente ameaçado por
ninguém” explica José.
Vila Alva, uma pequena aldeia alentejana, tem nas suas
terras mais do que alguns possam pensar. É nesta que encontramos algumas das
vinhas mais antigas desta zona do país, muitas delas plantadas em datas
anteriores a 1930. Chama-se “Vila Alva – Vinhas Centenárias” e é produzido com
uvas recolhidas de 6 hectares de vinhas localizadas na região, começando por
Vila Alva, passando por Vila de Frades, até à vila de Vidigueira. As castas que se entram na confeção deste vinho branco são as
tradicionais Antão Vaz, Roupeiro, Manteúdo, Diagalves, Larião e Perrum.
Para quem é apreciador de vinho, muitos são os adjetivos
que podem complementar esta iguaria. “Quem gosta de vinho não bebe só por
beber, bebe por reconforto, por ser algo que nos mostra apenas pelo paladar, um
outro mundo” explica Pedro Rolo, viticultor por paixão. “Apesar de ter outro trabalho,
nunca deixo de ter tempo para meter a mão na uva e ver a magia acontecer”
acrescenta. Para este apaixonado pela cultura vinícola, esta bebida centenária
é diferente de todas as outras pois “quase que conseguimos sentir a história do
vinho dentro do seu próprio sabor”.
Só aqueles que provam esta iguaria deixada por estas
terras alentejanas, é que um dia conseguirá compreender “o amor que sente ao
ver algo renascer de uma coisa tão simples como uma fruta”.
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