Um mundo em miniatura que nos leva de volta no tempo


“O tempo passa” é o nome da exposição de Hipólito Calado Barbosa, um artista de 78 anos, natural da aldeia de Vila Alva, no concelho de Cuba, distrito de Beja. O seu trabalho é conhecido por poucos, mas aqueles que apreciam as suas peças percebem o imenso talento que tem para oferecer ao mundo. A exposição abriu portas pela primeira vez em 2005, com um número reduzido de peças que já estavam a ser preparadas desde o final do ano de 1998. As figuras em exibição são representativas das atividades da vida social que em tempo fizeram parte do quotidiano da população desta aldeia. Desde o chafariz e do tanque à entrada da aldeia, passando pela Torre do Relógio, um símbolo icónico desta terra, até às carroças e charretes. 


Tem até um moinho de água que realmente funciona. Hoje esta exposição é permanente na sala dos combatentes no Museu Artesanal da aldeia de Vila Alva e está já perto de chegar às 50 peças. O autor espera que o número continue a crescer.


Para quem gosta de história esta é sem dúvida uma exposição que vale a pena visitar. Ver a vida de uma aldeia tão pequenina, que em tempos se fazia grande com as atividades que por lá existiam, é uma experiência que qualquer pessoa pode e deve ponderar fazer. O amor e o carinho, a paciência e a força de vontade que este artista impõe em cada uma das suas peças é incrível e, na minha opinião, quase capaz de nos transportar no tempo e fazer-nos sentir como se a história que conta também fosse nossa. Para além disso o seu trabalho torna-se ainda mais especial pelo facto deste artista ter um problema de saúde que o impede de usar ferramentas elétricas que criem muita estática, como rebarbadoras ou berbequins, o que faz com que cada objetivo seja produzido apenas com as suas próprias mãos.



Hipólito Barbosa passou grande parte da vida a trabalhar em barcos e das duas viagens que fez no ultramar trouxe consigo muitas memórias. No meio das suas peças criadas a pensar na sua aldeia podemos encontrar algumas inspiradas nas suas viagens, como é o caso do farol. Foram vários anos a trabalhar em peças não só típicas da sua região, mas também da sua própria vida. É uma exposição em constante mudança. Para este artista é importante ir alterando e adaptando as peças que estão em exposição. Para si falta sempre alguma coisa. Podemos perceber quanta dedicação este senhor tem ao seu trabalho. Para já, “o tempo passa” vai continuar em exibição, mas o artista tem já em vista uma nova exposição que será representativa de uma outra atividade da aldeia, o lagar.


Enquanto a vida lhe der tempo vai continuar a fazer esta atividade que tanta felicidade lhe traz. Quando já não conseguir mais espera que a sua neta, que já tem algumas peças apresentadas na exposição, um dia continue este seu legado. Só tem pena de não ter começado mais cedo e sinceramente, nós também. 

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